3 DE NOVEMBRO DE 2025
Durante o auge da pandemia de COVID-19, o culto digital parecia inaugurar uma nova era para as igrejas. Congregações que jamais haviam transmitido seus encontros online passaram a alcançar fiéis em outros estados e até em diferentes países. Para muitas comunidades, a tecnologia representou uma tábua de salvação em meio às restrições. No entanto, quatro anos depois, esse modelo enfrenta desgaste e revela limitações que desafiam a forma como a comunidade de fé se reúne.
Quando o surto obrigou o fechamento dos templos, pastores mobilizaram câmeras, plataformas de vídeo e reuniões pelo Zoom para manter o vínculo com os membros. O especialista Thom S. Rainer, fundador e CEO da Church Answers, recorda que alguns líderes relataram números recordes de visualizações — centenas ou até milhares — e acreditaram que o formato virtual se tornaria a nova normalidade. Com o passar do tempo, porém, o entusiasmo diminuiu.
De acordo com pesquisas do Barna Group, cerca de 40% dos cristãos afirmaram que provavelmente não participariam se a igreja funcionasse apenas de forma online, e 22% disseram nunca ter assistido a um culto, seja presencial ou virtual, durante a pandemia. Rainer observa que a frequência caiu e o engajamento enfraqueceu, à medida que muitos fiéis se cansaram do formato digital.
Assistir a um culto em casa, mesmo com conteúdo de qualidade, é diferente de reunir-se fisicamente com outros cristãos. “Uma transmissão ao vivo entrega conteúdo — um sermão, uma música, uma oração. Mas o culto nunca foi concebido apenas para transferência de informações. O culto é vivenciado”, explica Rainer.
O culto presencial proporciona sentido de pertencimento, comunhão e atenção. Esses elementos dificilmente são reproduzidos em um ambiente doméstico. Além disso, o culto online enfrenta o problema das distrações constantes — campainha, telefone, filhos ou redes sociais.
“O espectador médio on-line raramente mantém atenção total e ininterrupta por mais de alguns minutos”, observa Rainer. Segundo ele, quando o culto é reduzido a conteúdo acessado na tela, perde-se o ritual da vida comunitária, e isso afeta não apenas a espiritualidade, mas também a participação em doações e serviços voluntários.
Rainer reconhece que o culto online oferece conveniência em situações de doença, viagem ou isolamento. Contudo, ele faz um alerta: “O que começa como uma solução de curto prazo pode se tornar um substituto de longo prazo. Quando o culto se reduz à conveniência, o compromisso enfraquece”.
Para o autor, quando a igreja se torna apenas mais uma opção entre tantas outras, perde-se algo central: o senso de corpo e missão. O digital não deve ser descartado, mas ajustado para servir ao todo, e não substituí-lo. “A igreja digital não vai desaparecer. Mas a prioridade deve permanecer clara: a igreja reunida é essencial”, afirma Rainer.
O desafio atual, segundo Rainer, é reconhecer que a presença exige sacrifício. O formato online pode fortalecer a comunhão, mas não substituí-la. Ele recomenda que as transmissões sejam mantidas para alcançar quem não pode comparecer, mas que a presença física continue sendo o principal testemunho de fé.
O conteúdo online pode servir como porta de entrada, ferramenta de discipulado e extensão missionária, mas não deve ser tratado apenas como um “serviço alternativo”. A comunidade presencial, por sua vez, requer investimento em encontros, pequenos grupos e serviço voluntário, e não apenas em audiência passiva.